“É um crime de mando. Minha família está sendo perseguida”, assim define Wellington, filho de Mãe Bernadete, assassinada em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador. O crime aconteceu na noite dessa quinta-feira (17), no local onde a líder quilombola morava.
No momento do crime, ela estava acompanhada dos netos. Os criminosos entraram no imóvel onde funcionava uma associação. Segundo testemunhas, bandidos armados invadiram o terreiro, amarraram pessoas e executaram a tiros a líder quilombola. Os autores dos disparos usavam capacetes quando invadiram a casa de Mãe Bernadete e cometeram o crime. 12 tiros teriam sido disparados contra a líder quilombola.
Em entrevista à TV Bahia, Wellington cobrou investigação pela morte da mãe e também do irmão, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, executado em 19 de setembro de 2017. “É um crime de mando. Eu não vou sujar minhas mãos de sangue. Eu vou deixar um recado para o ministro Flávio Dino e o governador Jerônimo Rodrigues, que estava com ela até a semana passada: está fácil de resolver esse crime. Eu peço por favor que se faça justiça. Que não aconteça o que aconteceu com meu irmão. É a chance de elucidar os dois casos”, disse.
Ele disse ainda que o local é monitorado por câmeras, que podem ajudar a elucidar o crime. “Se a justiça quiser resolver, ela resolve. Eu sei que sou o próximo alvo. Mas eu não tenho medo não, eu só nasci uma vez e vou morrer. Vou continuar lutando pelos meus direitos porque quilombola é resistência”, disse.
Wellington demonstrou indignação com a execução da mãe. “Você matou uma idosa, descarregou uma pistola no rosto de uma idosa. Você é ruim, um escroto e quem mandou matar é pior ainda. Quem mandou matar é um covarde”, desabafou.
Investigação
Equipes das polícias Militar, Civil e Técnica estão em diligências para investigar o assassinato da ialoxirá e líder quilombola Mãe Bernadete. A informação foi divulgada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), nesta sexta-feira (18).
Na nota, a SSP informa que “após tomarem conhecimento do fato, iniciaram de imediato as diligências e a perícia no local para identificar os autores do crime”. A secretaria pede que pessoas que tenham pistas sobre os autores informem à polícia, em sigilio, através do telefone 181.
Governo federal
Comitivas do governo federal virão à Bahia para acompanhar as investigações da morte da líder quilombola. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio Almeida, lamentou a morte e informou que equipes do ministério vão vir à Bahia para acompanhar o caso. “Determinei o imediato deslocamento das equipes do @mdhcbrasil até Simões Filho, na Bahia. Expresso minha solidariedade aos familiares e à comunidade”, escreveu no X, antigo Twitter.
O Ministério da Igualdade Racial vai enviar também uma comitiva para a Bahia para acompanhar o caso, além de convocar uma reunião do grupo de trabalho de enfrentamento ao racismo religioso para tratar do caso.
“Amanhã irá uma comitiva liderada pelo MIR, junto aos Ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos, para realizar reunião presencial junto aos órgãos do estado da Bahia e atendimento às vítimas e familiares e para garantir que seja garantida a proteção e defesa do território”, diz nota divulgada pelo ministério.
O Quilombo Pitanga dos Palmares, liderado por Bernadete, é formado por cerca de 289 famílias e tem 854,2 hectares, reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comunidade já foi certificada pela Fundação Palmares, mas o processo de titulação do quilombo ainda não foi concluído.
Mãe Bernadete, líder quilombola. Crédito: Divulgação/Conaq