Inicialmente, não era intenção do Bonde do Maluco (BDM) abrir fogo contra os policiais civis e federais nas primeiras horas desta sexta-feira (15) no bairro de Valéria – a ação deixou um agente morto e outros dois feridos. Na verdade, a facção montou um “bonde” (grupo de homens armados) para recuperar o domínio sobre o território na Estrada do Derba.
Uma semana antes do confronto, integrantes do BDM foram expulsos da região em um ataque da arquirrival, Katiara, que historicamente predominava no bairro.“Antigamente, a Valéria era só Katiara. O BDM chegou tem uns 10 anos e isso aqui virou um inferno, porque quando um ataca de um lado, o outro contra-ataca. E a gente que não tem nada a ver fica neste fogo cruzado. Na sexta-feira passada (08), o pessoal da Katira tomou a região do Derba. Neste dia, ninguém dormiu. Foi uma madrugada de muito tiros. Ontem, o BDM resolveu tomar e deu no que deu”, explicou um morador, na manhã deste sábado (16).
Na megaoperação, o policial federal Lucas Caribé Monteiro de Almeida, 42, foi baleado durante o ataque do BDM e não resistiu. Um outro agente federal e um civil foram também baleados e socorridos. A ação policial foi batizada de “Fauda”, expressão em árabe que quer dizer “caos”. “Os caras não sabiam que policiais estavam na mata. Achavam que era o pessoal da Katiara”, completou o morador.
A área que o BDM tentou recuperar é cercada por uma vegetação, condição estratégica para a facção, pois, além de ficar às margens da Estrada do Derba e da Lagoa da Paixão, importantes rotas de fuga, a vegetação densa e extensa serve de esconderijo e também de armadilha contra os não conhecedores da vegetação. A via que liga a estrada à Valéria é a Rua Petronilia Dércia, que atualmente controlada pela Katiara, assim como a Rua Penacho Verde, Rua do Lavrador e o restante da Nova Brasília de Valéria.
“O BDM não vai parar enquanto não recuperar o que perdeu. E a gente sabe que isso vai acabar respingando em quem não tem nada a ver com a guerra entre eles. É por isso que é até arriscado falar sobre estas coisas, porque tem muita tem ‘olheiro’ em todo o canto”, disse o homem, antes de encerrar a conversa.
Crédito: Alberto Maraux / SSP